sábado, 21 de maio de 2011

O Efeito Borboleta


O Efeito Borboleta

Um pequeno desvio nas condições iniciais tem efeitos consideráveis ao longo prazo. Assim apresenta-se a sensibilidade às condições iniciais. Edward Lorenz deu uma imagem a esse efeito que batizou de ‘efeito borboleta’: uma pequena perturbação, da intensidade do bater de asas de uma borboleta, pode um mês depois ter um efeito considerável como o desencadeamento de um ciclone (ou até mesmo o contrário, o fim de uma tempestade), em razão de sua amplificação exponencial, que age sem cessar enquanto o tempo passa. O ‘efeito borboleta’ foi descoberto por E. Lorenz quando introduziu involuntariamente um pequeno erro inicial ao refazer seu cálculo e compreendeu que esse erro crescia exponencial à medida que o cálculo prosseguia, até chegar, a um nível em que os resultados mudavam radicalmente. Assim Lorenz descobria o efeito da sensibilidade às condições iniciais.

Ávido por recomeçar com mais detalhes um cálculo particularmente longo, E. Lorenz o recomeçou, mas não desde o começo, para ganhar tempo, ele introduziu os valores das variáveis (temperatura do ar, velocidade do vento, relação da altitude com a temperatura) que havia obtido, desse modo, aparecer a surpresa: ao cabo de pouco tempo os valores encontrados não tinham mais nenhuma relação com os objetos durante o cálculo precedente. A máquina calculava corretamente, no entanto, Lorenz não se enganara ao introduzir os valores. Acontece que as verdadeiras equações da circulação atmosférica não podiam deixar de apresentar mesma sensibilidade às condições iniciais, o que deveria tornar impossível qualquer predição em longo prazo. Como se ele tivesse ganhado o seu desafio de compreensão de imprevisibilidade atmosférica: dado o enorme número de perturbações, próprios da meteorologia, por mínimas que pareçam, nem por isso são controladas. Ou seja, se ocorrer o menor erro de observação, o tempo previsto para uma semana mais tarde será completamente mudado.


Encontra-se uma descrição semelhante sobre o ‘efeito borboleta’ em “Dos ritmos ao caos” de Pierre Berge, Yves Pomeau e Monique Dubois-Gance, em que a presença dessa sensibilidade às condições iniciais não deve fazer que se assimilasse o comportamento de um tempo meteorológico ao do ‘caos’ (de tão pequeno o número de variáveis). Existe uma dupla diferença: trata-se de um lado, de uma ‘dinâmica espaço-temporal’, ao passo que, nos ‘modelos do caos’ propriamente ditos, trata-se de evoluções puramente temporais, nas quais a ‘estruturação espacial’, se existir, será mantido ao longo do tempo, de outro lado, o número de variáveis de um ‘modelo meteorológico’ é consideravelmente alto para ser comparado aos três ou quatro dos ‘modelos clássicos de caos’. Neste caso, a meteorologia só inspirou um dos mais célebres ‘modelos de caos’: o ‘modelo de Lorenz’.

Como relacionar o desprezo às latitudes a essa evolução puramente temporal do ‘modelo de caos’ meteorológico de Lorenz? Uma vez reconhecida essa diferença entre tempo e caos com o modelo espaço-temporal d meteorologia em que medida supor as consequências ou catástrofes meteorológicas a partir das aplicações de tal modelo caótico? Por exemplo, o de Lorenz que está em questão.

Os sistemas caóticos são um exemplo de instabilidade, um ‘sistema instável’, porque as trajetórias correspondentes a condições iniciais, tão próximas quanto quisermos, divergem de maneira exponencial ao longo do tempo. Fala-se, portanto, da ‘sensibilidade às condições iniciais’; ilustrada na parábola da borboleta: ‘a batida de asas de uma borboleta na bacia do Amazonas pode afetar o tempo que fará nos Estados Unidos’, conforme Ilya Prigogine em “O Fim das Certezas”. No ‘efeito borboleta’ – para pequenas condições meteorológicas, qualquer previsão perde o valor rapidamente – os erros e as incertezas se multiplicam formando um efeito de cascata ascendente através de uma cadeia de aspectos turbulentos, que vão dos ‘demônios da poeira’ e tormentas até redemoinhos continentais que só os satélites conseguem ver.

De todo modo, se o tempo chegasse alguma vez a um regime exatamente como o atingido antes, em que todos os ventos e nuvens fossem os mesmos, então se presume que ele se repetiria para sempre e o problema da previsão se tornaria trivial. No entanto, se parássemos apenas no ‘efeito borboleta’, uma imagem da previsibilidade seria substituída pelo menor acaso. Acontece que Lorenz, mais do que isso, em seu ‘modelo de tempo’, ele viu uma ‘ordem mascarada’ de aleatoriedade. Percebe-se que uma cadeia de acontecimentos pode ter um ponto de crise que aumenta pequenas mudanças, perceptível tanto na vida quanto na ciência. Mas o ‘caos’ significa que tais pontos estejam por toda parte, generalizados, em sistemas como o ‘tempo’, onde a dependência sensível das condições iniciais era consequência inevitável da maneira, pela qual as pequenas escalas se combinavam com as grandes.

Dependência sensível às condições iniciais foi o nome técnico que o ‘efeito borboleta’ recebeu, segundo James Gleick em “Caos”. De que modo, então, reafirmar a relevância dos estudos sobre o tempo produzidos por Lorenz no que se refere à ‘dependência sensível às condições iniciais’? Antecipa-se em informar que a intervenção do homem na natureza se baseia cada vez mais à sensibilidade das condições iniciais em um ‘sistema do tempo’. Existe possibilidade de um sistema dinâmico, como o tempo, ignorar à espacialização do homem, à localização de suas práticas (industriais, de sobrevivência, etc.)? De que forma substituir as asas da borboleta pelos atos humanos, como causadores de ‘tornados’ no Texas?